Agricultor do Norte do RS também é conhecido como Homem do Tempo
Muito ligado ao cooperativismo, Nei espera que seus estudos meteorológicos colaborem futuramente com a agricultura da região
Nei Abílio Sossmeier é uma figura conhecida na região do Alto Jacuí, norte do Rio Grande do Sul. Há 37 anos ele registra o tempo todos os dias e cataloga em anotações manuais, realizando impressionantes comparativos. Morador do interior do pequeno município de Victor Graeff, na localidade de São José da Glória, Nei é um profundo conhecedor do clima e de eventos meteorológicos, mesmo sem ter efetivamente estudado a área.
O cooperativismo é um traço forte do jeito de ser de Nei. Ele participa ativamente das reuniões e eventos da Sicredi Alto Jacuí, como coordenador de núcleo local. Ele conta que, “sem querer”, até assistiu a fundação da instituição financeira cooperativa, em Não-Me-Toque, em 1981. “Havia ido até a cidade, fiquei sabendo de uma cooperativa de crédito que estava sendo criada e fui até a reunião. Desde lá, sou associado do Sicredi com muita alegria”, diz Nei.
Associado também da Cotrijal, cooperativa de grãos que promove a Expodireto, Nei conta que foi um presente dessa cooperativa que despertou nele o interesse pela meteorologia. “Aos meus 15 anos fui presenteado pelo Departamento Técnico da Cotrijal com um pluviômetro e um folheto de controle. Foi aí que começou essa paixão”, relata.
Inicialmente, ele apenas catalogava os milímetros de chuva, mas como na época em que surgiu esse interesse houve uma grande estiagem, ele decidiu começar a registrar todos os eventos climáticos do dia. E após todo esse trabalho e dedicação, atualmente, ele possui gráficos e comparativos de fatores como: geadas, chuvas, secas, temperaturas mínimas e máximas, granizos, enchentes e muito mais.
Para 2018, Nei destaca que, baseado em suas estatísticas, o inverno vai chegar mais cedo – em meados de maio – e será rigoroso e duradouro. “Por isso, decidi não plantar trigo neste ano, a fim de não sofrer com perdas”, comenta.
Ele ainda salienta que, pela histórica do que vem acontecendo no hemisfério norte, em 2019 a safra de inverno poderá ter complicações entre junho e julho. E entre as suas principais conclusões está o fato de que a região do Alto Jacuí recebe influências das frentes frias da Amazônia, e não só da Argentina, como avaliam as grandes estações meteorológicas. “Isso explica muito sobre o clima aqui na região, pois há 20 anos, isto não ocorria. E éramos influenciados apenas pelos ventos vindos da Argentina. Só que isso mudou. De 2000 para cá, recebemos influência também da Amazônia, o que fez elevar os níveis de chuva da nossa região e também aumentar as temperaturas, como comprovam minhas anotações”, argumenta.
Questionado sobre de onde surgiu esse interesse, Nei relata que acredita ser essa a sua verdadeira vocação. Ao completar 40 anos de registros, seu desejo é de reunir todas as informações e estudos em um livro. “Não quero que esse conhecimento permaneça apenas comigo, minha vontade é de contribuir de alguma maneira com os estudos meteorológicos aqui da região. Hoje posso dizer que me sinto orgulhoso por esse trabalho e pelo reconhecimento que recebo e já recebi durantes estes anos”, conclui.
Redação: Mariângela Palmeira – Sicredi Alto Jacuí RS.
Crédito fotos: Bruna Roberta Toso.