Como as cooperativas de crédito impactam a economia e respeitam o ser humano nas relações?, por João Spenthof
O cooperativismo de crédito já é vivido por mais de 274 milhões de cidadãos no mundo. Mas ao invés de afirmar que as cooperativas de crédito, juntas, possuem 274 milhões de associados, o mais adequado é dizer que essas 274 milhões de pessoas, juntas, formam as cooperativas de crédito. Isso porque, neste instrumento de organização econômica da sociedade, o ser humano é o pilar principal. As cooperativas de crédito podem provar que, com o compromisso de melhorar a vida financeira das pessoas e o desenvolvimento das comunidades, é possível garantir resultados econômicos e sociais para seus associados e para a sociedade, ou seja, o desenvolvimento sustentável para todos.
As cooperativas de crédito trabalham na contramão de uma visão frequentemente relacionada às instituições financeiras em geral: a de que o lucro obtido através do esforço de muitos é aproveitado por poucos. Isso porque elas são empresas de propriedade comum, nas quais todos os associados são donos do negócio – e democraticamente geridas. Nas cooperativas de crédito as pessoas se unem para suprir necessidades econômicas e sociais que são do interesse de todos. Esse tipo de sociedade está pautada em nobres valores, dos quais podemos destacar a solidariedade e a ajuda mútua.
O cooperativismo de crédito no Brasil é secular e, ao apresentar crescimento até os dias atuais, prova que é um modelo sólido e permanente. Em pesquisa realizada através da parceria entre o Sicredi e a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) constatou-se, por exemplo, que cidades brasileiras com presença de cooperativas de crédito possuem incremento no PIB per capita de 5,6%, com a criação de 6,2% a mais de empregos e aumento de 15,7% no número de estabelecimentos comerciais.
O estudo da Fipe revela ainda que cada R$ 1,00 concedido em crédito pelas cooperativas gera R$ 2,45 no PIB da economia. Esse incremento é justificado por taxas e tarifas mais justas, que contribuem para amenizar desigualdades sociais e para levar inclusão financeira a mais e mais pessoas por meio do cooperativismo de crédito. Tais benefícios são fruto de um modelo de governança mais próximo, pois perto das comunidades estão não apenas as agências das cooperativas de crédito, mas também as suas sedes administrativas. Isso faz com que o entendimento da realidade local seja ainda mais nítido, contribuindo para o desenvolvimento de soluções justas e igualitárias que atendam necessidades próprias de cada região.
O cooperativismo de crédito segue estendendo a mão para todos, e seus diferenciais vêm atraindo novos adeptos. No Brasil já são quase 11 milhões de associados, dos quais 4,5 milhões estão no Sicredi. Nos estados de Mato Grosso, Pará, Rondônia e Acre, por exemplo, o Sicredi já totaliza meio milhão de associados e segue estendendo a mão para todos. Para atender esse contingente com proximidade e de maneira consultiva, é necessário estar presente na vida dessas pessoas, inclusive fisicamente. Afinal, assim como na medicina é duvidoso o diagnóstico a partir de uma consulta a distância, quando se trata da saúde financeira das pessoas, o atendimento remoto nem sempre é capaz de detectar possíveis dores que prejudicam a relação das pessoas com o dinheiro.
Por isso, diferente dos bancos que – justificados pelo movimento de digitalização – seguem reduzindo seu atendimento presencial por meio de um crescente fechamento de agências, o Sicredi alia modernidade e tradição, trabalhando pela melhoria de seus canais digitais sem deixar de lado a sua preocupação em estar próximo de seus associados, fazendo com que a grande massa tenha oportunidades múltiplas de usufruir de sua rede de atendimento e serviços, com um crescente movimento de abertura de novas agências e expansão para novos territórios.
Para além de um grande número de agências, o associado do Sicredi também conta com a participação nos resultados que são divididos equitativamente entre todos. Isso significa que esses recursos ficam na região, agregando renda e movimentando a economia local. Além de todos esses diferenciais, a captação de recursos também fortalece a capacidade do Sicredi na concessão de crédito para o financiamento de diferentes atividades produtivas, sejam elas no comércio, na indústria ou na agricultura.
Cooperativas de crédito são sociedades de pessoas, e cada um de seus diferenciais são a roda motriz que movimenta e fortalece a economia local, transformando a vida das pessoas. Elas cumprem um papel econômico, mas sua missão é social, e unem sua modernidade à solidez histórica de mais de um século de existência. É assim, colocando as pessoas em primeiro lugar que se desencadeia uma série de diferenciais que só o cooperativismo de crédito possui. Viver esse modelo de organização econômica é pensar coletivamente. Quando fazemos parte de uma cooperativa de crédito, somos autores e personagens das histórias que construímos.
João Spenthof é presidente da Central Sicredi Centro Norte, presidente do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop) e vice-presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras em Mato Grosso (OCB-MT).