Selic aumentou novamente: o que fazer com seus investimentos?
Entenda as razões que levaram ao aumento na taxa básica de juros e de que forma essa mudança impacta nos seus investimentos.
A recente decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de aumentar a taxa Selic para 3,50% ao ano traz impactos nas taxas de juros em vários segmentos do mercado, em especial aos investimentos. É a segunda vez que a Selic sobe neste ano. Em março, ela foi de 2% para 2,75%. Antes disso, desde agosto de 2020, se manteve em 2%, sua mínima histórica. Um aumento da taxa não era registrado desde 2015, quando ela passou de 13,75% para 14,24% ao ano, antes do seu movimento de queda.
Neste texto, te contamos sobre como funciona a Selic, qual é a razão do seu aumento, e o que você pode fazer com seus investimentos daqui para a frente.
Como funciona a taxa Selic?
A Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) impacta vários setores da nossa vida, pois influi nos investimentos, nos financiamentos e nos preços de tudo que consumimos. Ela também é conhecida como a “taxa-mãe” da economia, porque influi em diversos indicadores do sistema financeiro, estando atrelada à inflação: se os preços sobem, ela sobe junto para tentar frear o aumento dos preços.
Ou seja, a Selic é um mecanismo do Banco Central para a contenção da inflação, pois quando a inflação sobe, uma das alternativas é elevar também a taxa Selic. A inflação alta também pressiona o aumento dos juros de financiamentos, empréstimos, títulos públicos e investimentos. Ela também é uma taxa de referência para as reservas bancárias, que são um tipo de depósito que as próprias instituições financeiras são obrigadas a fazer em contas do Banco Central.
O juro, por sua vez, é o valor do “aluguel” do dinheiro durante o tempo. As instituições financeiras fazem a mediação entre quem tem dinheiro para emprestar, o poupador ou investidor, e quem precisa pegar dinheiro emprestado, o tomador. O investidor recebe os juros deste empréstimo, e as instituições financeiras ficam com uma porcentagem.
A lógica para frear a inflação é que quando aumenta a taxa básica de juros, fica mais caro obter crédito – tanto para pessoas físicas quanto para empresas –, e isso pode ajudar a frear o consumo.
Por que a Selic subiu agora?
No momento, ainda estamos lidando com o impacto econômico da crise mundial da Covid-19. As restrições abalaram muito a oferta de bens e serviços no país, e alguns fatores internos e externos também tiveram influência.
Este ciclo de alta da Selic começou por causa do aumento da inflação, que é o aumento generalizado dos preços pagos por bens e serviços. O auxílio emergencial foi um dos fatores que contribuiu para esse aumento. Com muito dinheiro entrando na economia, as pessoas passaram a gastar mais. Contudo, a quantidade de bens e serviços disponíveis não aumentou na mesma proporção, o que elevou a inflação. Isso é a lei da oferta e da demanda.
Outro motivo foi o aumento do preço das commodities no mercado internacional, em dólar, que fez com que os produtores optassem por vender mais para fora ao invés do mercado interno. A depreciação da moeda também teve outro efeito: o recuo dos investidores internacionais no Brasil. A desvalorização dos bens, direitos e créditos brasileiros no mercado exterior levou os investidores estrangeiros a retirarem seu dinheiro daqui.
Segundo o Relatório Focus, os economistas projetam que a Selic poderá chegar até 5,50% ao ano, no final de 2021, e a 6,25% até 2022, dando sequência ao seu movimento de alta.
Mas qual serão os efeitos da alta da Selic nos meus investimentos?
Isso irá depender muito de quais são os seus objetivos ao investir, o que é algo particular de cada pessoa. É preciso apenas mudar um pouco a sua estratégia dependendo do caso.
Para quem irá fazer um empréstimo, o aumento da Selic é um balde de água fria, pois o crédito estará mais caro. Já para quem quer investir na renda fixa, existe a oportunidade de ganhar um pouco mais. Mas quem almeja lucros maiores pode abrir mão de parte da liquidez ao diversificar seus investimentos em ativos de maior risco ou com prazos mais longos.
Se você já tem investimentos em renda fixa – Tesouro Direto, CDBs, LCA, LCI, etc. – e pretende seguir com os títulos até o fim, não precisa se preocupar, é só não resgatar antes do prazo. Isso porque, o preço oferecido se você vender seu título hoje, pode ser menor do preço de quando ele foi comprado e inferior ao valor total no momento do vencimento, por isso, há chances de perda.
Na poupança, que paga o equivalente à TR (Taxa Referencial, usada para determinar o rendimento da poupança) + 70% da Selic, os ganhos aumentam, mas ainda perdem para a inflação. Esse é o lugar para deixar um dinheiro que será usado mais rapidamente, por exemplo, parte da sua reserva de emergência.
Para quem pensa em investir na renda fixa, fique atento ao seguinte movimento:
- Atenção com títulos pré-fixados: pois ainda não sabemos até que ponto a taxa Selic realmente irá subir, tendo em vista os desdobramentos da economia brasileira. Você pode comprar um título hoje com uma taxa pré-fixada e, por influência do mercado, ela dobrar daqui um tempo para o mesmo tipo de aplicação. Nesse caso, seu investimento pode ficar preso a uma taxa mais baixa ou você pode ter perdas se necessitar resgatar antes do vencimento devido a “marcação a mercado”: a diferença entre o preço pago pelo título no momento da compra e a flutuação – para cima ou para baixo – do seu valor de mercado até o vencimento.
- Atenção com títulos atrelados ao IPCA: Esse tipo de aplicação geralmente remunera da seguinte forma: uma taxa de juros fixa, mais o valor do IPCA no dia da compra. Se você obter algum desses títulos hoje, a Selic subir novamente e empurrar o IPCA para baixo, e você vender o título antes do vencimento, você pode perder dinheiro devido a marcação a mercado. A única forma de não correr esse risco é levar o título até o vencimento, quando será pago o valor integral combinado no momento da compra.
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